Informática no esporte

Todo início de jogo para o time de basquete profissional norte-americano do Chicago Bulls é assim: uma hora antes, no vestiário, o técnico Phill Jackson distribui com os jogadores uma planilha de dados - tanto da sua equipe quanto da adversária - que ele, acredita, podem influenciar o resultado. Tendo como estrela Micheal Jordan - que já coloca em xeque o título do Atleta do Século dado a Pelé -, o time ganhou cinco dos sete campeonatos da década. Em Pernambuco, durante os jogos de futebol do Sport, o assistente-técnico Wellington Vero passa os 90 minutos no banco, digitando o laptop para uma radiografia sobre o desempenho do time. O trabalho é instantaneamente repassado ao técnico Hélio dos Anjos que, aos gritos, já pode fazer alguma intervenção na equipe. A integração futebol-computador no clube começou em 95 e, de lá para cá, o Sport conquistou dois campeonatos pernambucanos.
Vista com reserva pelos puristas e mais críticos ("O computador fabrica o atleta", dizem alguns), a aplicação da informática é um caminho sem volta. "Hoje a avaliação do atleta no nosso laboratório se utiliza em 90% da informática", afirma o professor Manuel Costa, do Laboratório de Performance da Escola Superior de Educação Física (Esef) da Universidade de Pernambuco. Na realidade eletrônico-esportiva, os notebooks são apenas o equipamento mais básico e o scout (avaliação dos critérios técnicos), o ponto de partida para um mundo onde todos os ângulos dos movimentos, a potência de um músculo e até o percentual de gordura em cada parte do corpo podem ser detectados. Um trabalho minucioso que custa alguns milhares de reais e que mostra a deficiência física e técnica do atleta. E, com os dados nas mãos, é possível ir em cima, com carga total, para aplacar ou até acabar com a deficiência. "Hoje o computador direciona todo o meu trabalho, mas não perco meu feeling", confessa o técnico do Sport, Hélio dos Anjos.
O Sport Clube do Recife e a recém-criada Unibol - empresa para formação de jogadores de futebol - são os que mais utilizam, em Pernambuco, a informática no esporte. Os 22 jogadores do Unibol passaram por uma bateria de testes no Laboratório de Performance da Esef que dá uma boa dimensão de cada um. Num programa elaborado pelo professor Aldemir Teles a partir da planilha do Excel, estão lá gráficos sobre a postura, curva de potência e todo o sistema de bioquímica. Informações coletadas através do sistema Elite de 13 canais da Micromed inserido num Pentium D100 de 16 MB RAM, além do material repassado por esteiras de alta performance da Embramed (vão até 24 km/h) e bicicleta.
O Sport acredita na informática. No futebol, Comissão Técnica e o preparador físico fazem um trabalho conjunto. Nos jogos, além do notebook do preparado Wellington Vero em campo, o fisiologista Inaldo Freire fica na arquibancada com outro laptop, monitorando a equipe adversária, com um cronômetro do lado. Ao final do jogo, cruzam os dados e, 10 minutos depois, chega ao técnico o rendimento da equipe em geral e de todos os jogadores em campo - passes, segunda bola, desarmes, escanteios, faltas, finalizações e gols. Eles utilizam o programa desenvolvido pela Metainformática em 95 e só precisam de um 386 de 4 MB RAM. "Nossa maior preocupação é com a bateria, que deve assegurar pelo menos duas horas de uso. Não pode falhar no meio do jogo", diz Inaldo Freire. Na sala de avaliação física, o clube possui uma bicicleta ligada ao Pentium 133 16MB RAM, num programa da Unicamp para verificar a potência do atleta. Conta também com uma esteira eletrônica que, em breve, também será acessada ao computador.
Os juniores do remo rubro-negro, bicampeões brasileiros, se submetem a um trabalho de medição de consumo de oxigênio, realizado com um software da Micromed. "A prova de que o trabalho deu resultados foi que os garotos foram convocados para a seleção brasileira", vibra Manuel Costa, da Esef, que monitorou o trabalho juntamente com o Laboratório de Instrumentação em Avaliação Física e Biomecânica de Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Numa sala que não chega aos requintes futuristas do Departamento de Informática da Federal, a Biomecânica guarda algumas preciosidades de avaliação do atleta. Uma deles é um programa alemão de medição de força interligado a uma máquina de musculação com sensor de força. Os dados são passados a um 486 de 8 MB RAM e, a partir daí, se obtém o gráfico da força explosiva do atleta.
Outra curiosidade da Laboratório de Biomecânica é o "tapete voador" - para medir o tempo de permanência do ar. Com o nome científico de tapete de contato, o equipamento ativa o cronômetro no momento que se tira o pé do local, o disparando quando o salto termina. "Antes se faziam prognósticos subjetivos no esporte. Agora não: é possível melhorar o rendimento do atleta e até fazer uma prevenção", afirma o físico e professor de Educação Física Tetsuo Tashiro. O "tapete voador" foi utilizado pelo vôlei da AABB. Nove vezes campeão pernambucano adulto feminino, a equipe tem andado lado a lado com a informática desde o ano passado. Os jogos do adulto feminino são scouteados pelo assistente José Alves. "Com o scout, conseguimos identificar melhor onde enfatizar mais o treinamento", diz o técnico Ednílton Vasconcelos. Ano passado, a observação se detinha no ataque. Agora a prioridade é o saque, bloqueio e recepção. "Com um saque forte, fazemos ponto direto. Não temos que defender, atacar. E, hoje, o bloqueio é fundamental diante da potência do ataque", diz Ednílton.

Mas, nem sempre, a informática é reconhecida. No Santa Cruz, o preparador físico Eudes Pedro é um usuário contumaz do scout. "A análise vai ao encontro dos débitos. Fica-se mais ciente dos problemas", analisa. Normalmente, ele faz uma planilha na prancheta, manualmente, a cada jogo do time tricolor. Depois, em casa, passa o material para o seu 486. Mas todo esse trabalho às vezes se torna à toa. O técnico Fito Neves reconhece: "Não dá bola". "Futebol é resultado: quando está ganhando, é até bonito se usar o computador. Quando se perde, há muitas críticas e isso não vale nada. Então, minha informática é o meu olho".
Departamento medico do fluminense.

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